sexta-feira, 26 de novembro de 2010

CANTINHO POÉTICO

             Não te amo como se fosses rosa e sal, topázio
             ou flecha de cravos que propagam o fogo:
             te amo como se amam certas coisas obscuras,
             secretamente, entre a sombra e a alma.

             Te amo como a planta que não floresce e leva
             dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
             e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
             o apertado aroma que ascendeu da terra.

             Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
             te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
             assim te amo porque não sei amar de outra maneira,

            senão assim deste modo em que não sou nem és
            tão perto que tua mão sobre o meu rosto é minha
            tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

           Pablo Neruda - Cem Sonetos de Amor

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