XENOFOBIA E COLONIZAÇÃO(*)
Não sou xenófobo, nem regionalista ortodoxo - respondendo a uma insinuação de um querido e ácido amigo. Embora tenha razões para isso: a globalização e uma de suas mais nefastas consequências, a cultura de massa alienígena.
Minha formação literária, filosófica e sociológica foi universalista. Devorei os clássicos da literatura francesa, inglesa, alemã, espanhola, portuguesa e americana, entre outros, quando ainda era adolescente. Sempre tive muita familiaridade com a filosofia, porque era um jovem indagador, curioso, sedento de respostas às minhas questões existenciais. Desde os gregos, pré e pós socráticos até os existencialistas (Sartre e Kierkgaard, principalmente) foram objetos das minhas consultas. Encantei-me com o Teatro do Absurdo, com Pirandello, Shakespeare, Moliére, Tchekhov, Tenesee Williams...
Mas constatei que não poderia reviver os intelectuais do período imperial, que, retornando da Europa, traziam o Sena, o Tibre e o Tejo para os quintais de suas casas. Porque era necessário dar um sentido nativista à consciência nacional, todavia sem perder o sentido universal. Mesmo porque há muito de universal nas nossas culturas.
Por exemplo: há algum tempo atrás, lendo o excelente mexicano Ciro Alegria (Grande e estranho é o mundo), descubro na cultura dos indígenas daquele país, semelhanças com o nossos povo sertanejo nordestino. É só conferir. Assim como a pobreza, por exemplo, é um fenômeno universal. Senão, leia, só para confirmar, a "Crônica de Pobres Amantes" do italiano Vasco Pratolini.
Na verdade, distinguimos as questões estruturais da sociedade, através de ângulos culturais diferentes. Mudam os cenários, mas os roteiros e os atores são os mesmos.
Quando fui Pró-Reitor de Extensão da UFRN, observei que estávamos mais perto do Canadá, que da Paraíba. No entanto a Paraíba atendia melhor às nossas requisições que o Canadá, não apenas em razão da proximidade como da excelência e adequação aos nossos projetos na área tecnológica.
A questão é que sempre precisamos de um aval d´além mar. Como em relação aos produtos que adquiríamos antigamente. Se eram brasileiros, eram inconfiáveis, agora os alemães e americanos ...
Precisamos criar uma sedimentação cultural nacional e um estilo, uma marca, uma referência que estimule a nossa identidade, inconfundível com a alienação globalizante mas capaz de se firmar universalmente, como o fizeram alguns autores brasileiros.
Somos capazes de escarnecer de Paulo Coelho como incipiente cultural, pelo fato de ter alcançado sucesso internacional, mas não fazemos o mesmo com o lixo literário que é despejado das forjas da massificação global. Somos rigorosos com os nossos e tolerantes e compassivos com os alheios.
Por que devo garimpar os poetas balcânicos e os pintores eslovenos, se encontro aqui os mesmos valores? Talvez para oferecer uma dimensão universal da minha erudição, um mero exercício de pedantismo, presunção e pretensão, um penduricalho e um cacoete de colonizados.
Tenho uma identidade: sou brasileiro, tropical e latinoamericano. Sou cidadãos do mundo, mas conservo a minha identidade e é através dela que me qualifico e me individualizo, portanto...
Vou voltar ao tema. Por ora é só uma provocação.
Não sou xenófobo, nem regionalista ortodoxo - respondendo a uma insinuação de um querido e ácido amigo. Embora tenha razões para isso: a globalização e uma de suas mais nefastas consequências, a cultura de massa alienígena.
Minha formação literária, filosófica e sociológica foi universalista. Devorei os clássicos da literatura francesa, inglesa, alemã, espanhola, portuguesa e americana, entre outros, quando ainda era adolescente. Sempre tive muita familiaridade com a filosofia, porque era um jovem indagador, curioso, sedento de respostas às minhas questões existenciais. Desde os gregos, pré e pós socráticos até os existencialistas (Sartre e Kierkgaard, principalmente) foram objetos das minhas consultas. Encantei-me com o Teatro do Absurdo, com Pirandello, Shakespeare, Moliére, Tchekhov, Tenesee Williams...
Mas constatei que não poderia reviver os intelectuais do período imperial, que, retornando da Europa, traziam o Sena, o Tibre e o Tejo para os quintais de suas casas. Porque era necessário dar um sentido nativista à consciência nacional, todavia sem perder o sentido universal. Mesmo porque há muito de universal nas nossas culturas.
Por exemplo: há algum tempo atrás, lendo o excelente mexicano Ciro Alegria (Grande e estranho é o mundo), descubro na cultura dos indígenas daquele país, semelhanças com o nossos povo sertanejo nordestino. É só conferir. Assim como a pobreza, por exemplo, é um fenômeno universal. Senão, leia, só para confirmar, a "Crônica de Pobres Amantes" do italiano Vasco Pratolini.
Na verdade, distinguimos as questões estruturais da sociedade, através de ângulos culturais diferentes. Mudam os cenários, mas os roteiros e os atores são os mesmos.
Quando fui Pró-Reitor de Extensão da UFRN, observei que estávamos mais perto do Canadá, que da Paraíba. No entanto a Paraíba atendia melhor às nossas requisições que o Canadá, não apenas em razão da proximidade como da excelência e adequação aos nossos projetos na área tecnológica.
A questão é que sempre precisamos de um aval d´além mar. Como em relação aos produtos que adquiríamos antigamente. Se eram brasileiros, eram inconfiáveis, agora os alemães e americanos ...
Precisamos criar uma sedimentação cultural nacional e um estilo, uma marca, uma referência que estimule a nossa identidade, inconfundível com a alienação globalizante mas capaz de se firmar universalmente, como o fizeram alguns autores brasileiros.
Somos capazes de escarnecer de Paulo Coelho como incipiente cultural, pelo fato de ter alcançado sucesso internacional, mas não fazemos o mesmo com o lixo literário que é despejado das forjas da massificação global. Somos rigorosos com os nossos e tolerantes e compassivos com os alheios.
Por que devo garimpar os poetas balcânicos e os pintores eslovenos, se encontro aqui os mesmos valores? Talvez para oferecer uma dimensão universal da minha erudição, um mero exercício de pedantismo, presunção e pretensão, um penduricalho e um cacoete de colonizados.
Tenho uma identidade: sou brasileiro, tropical e latinoamericano. Sou cidadãos do mundo, mas conservo a minha identidade e é através dela que me qualifico e me individualizo, portanto...
Vou voltar ao tema. Por ora é só uma provocação.
(*) PEDRO SIMÕES NETO.
O autor, Pedro Simões Neto, foi advogado militante, Professor e Escritor;foi Pró-Reitor de Extensão Universitária da UFRN, além de ter exercido cargos de relevância na administração Pública estadual no período do Governo Geraldo Melo; faleceu em 1º/02/2013, após longo período de internação hospitalar.
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