NEPOTISMO E CORRUPÇÃO
Uma importante questão está sendo debatida pela
sociedade brasileira: o nepotismo, ou a concessão de emprego baseada não no
mérito, mas nas relações de parentela. Este tema, volta e meia vem à tona acompanhada
de um debate que, em geral, se caracteriza pelo lugar comum e pelo discurso
político hipócrita, bem no estilo tupiniquim em que o “brasileiro errado é
sempre o outro”.
A reprovação moral ao nepotismo e sua
associação como um ato de corrupção merecem uma reflexão pouco debatida. Tal
associação não é uma tarefa trivial tendo em vista o caráter multifacetado daquele
fenômeno social.
A corrupção definida como uma violação a
regras estabelecidas para a obtenção de algum benefício privado implica que atos
como: extorsão, suborno, peculato, fraude, entre outros, são exemplos diretos e
claros de corrupção com punições previstas em normas legais existindo uma
razoável reprovação moral da sociedade.
No caso do nepotismo, ainda que
indiretamente ou diretamente existam normas legais para coibir tal prática, estas
vêm se mostrando inócuas uma vez que na prática parece existir uma
condescendência social que a alimenta e legitima.
Uma engenhosa definição de corrupção formulada
por Heidenheimer pode auxiliar no entendimento. Ela nos mostra que a sociedade
estabelece uma gradação de aceitabilidade desse fenômeno social. Ao dividir a corrupção
em três categorias (preta, cinza e branca), ela é avaliada segundo o
comportamento ou costumes sociais (normas sociais) vis à vis às leis vigentes (normas legais).
Nesse sentido, a corrupção preta seria
aquela em que a norma social e a norma legal coincidem, isto é, a sociedade
reprova determinadas ações e existe uma lei que proíbe e pune. Já a cinza seria
aquela em que a norma legal impede determinado comportamento, mas a norma
social não é consensual e, finalmente, a branca onde a norma legal proíbe mas o
comportamento social generalizado não a legitima. (ex: comprar produtos piratas
ou jogar no bicho).
Em minha opinião, o nepotismo estaria
ainda, infelizmente, situado na corrupção cinza. Ou seja, se desejamos diminuir
tal prática, não será com a criação de novas normas legais. A instituição da
cultura do concurso público como regra de entrada no serviço público e de
limites bastante parcimoniosos de preenchimento de cargos de confiança em todos
os níveis do Poder Público são mais eficazes.
A cultura da meritocracia e do
profissionalismo na gestão da administração pública brasileira ainda é
incipiente comparativamente àquelas sociedades mais desenvolvidas institucionalmente.
Portanto, dado o estágio de desenvolvimento institucional do país e dos nossos
comportamentos, valores e costumes sociais, acredito que iremos conviver
durante algum tempo com o nepotismo e seus comportamentos derivados o
clientelismo, favoritismo e fisiologismo..
Luís
Filipe Vellozo de Sá
Economista e Membro fundador da ONG
Transparência Capixaba
Publicado em A Gazeta (ES) em 4/5/2005
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