quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O FUNDO MORAL DA FILOSOFIA DE SÓCRATES...

cada homem é homem no sentido concreto do termo, existindo, vivendo dentro do seu tempo, dentro de sua trama social, convivendo com determinado período que se fará história, com um certa condição cultural... Sócrates sabe que o homem é finito, por mais que ele consiga aumentar o seu conhecimento, por maior que seja esse conhecimento, será sempre muito mais ignorante que sábio. O conhecimento do sábio, vamos supor do mais sábio de todos os homens, seria como que uma gota diante do mar imenso de conhecimentos que ele ignora. Quando Sócrates diz que nada sabe, ele não o diz por falsa modéstia. É que ele tem noção exata das limitações do homem no campo do saber. Quanto mais sábio é o indivíduo, maior e a noção que ele possuí da sua própria ignorância; rir-se da fatuidade daqueles que se julgam sabedores de todas as coisas. Assim, a ironia em Sócrates é uma atividade francamente filosófica. É por isso que Francis Wolff afirma que a ironia socrática: “Talves seja uma atitude profundamente filosófica. Pois quer ela se exerça sobre as coisas, sobre os outros ou sobre si, ela tem sempre um efeito saneador e purificador. Em o escárnio ou o sarcasmo, marcas de uma vaidade finalmente dogmática, nem a hipocrisia ou o embuste, sempre malignos, mas sim a ironia sempre e artificiosa”. Enquanto os sofistas passeiam a sua sabedoria pelas ruas de Atenas, procurando fazer as coisas tendo em mira sempre o progresso pessoal, o enriquecimento rápido, visando poder conquistar o domínio do prestígio popular, Sócrates dedica-se de corpo e alma, esquecido de si mesmo, a melhor o estado moral e espiritual dos Atenienses. Entrega-se ele com toda a energia possível à educação da juventude. Educa e instrui. E nesse educar, passa Sócrates a subordinar o discurso a uma busca irrecusável da verdade em identificação permanente com o bem moral. Ele interpreta a exortação do Oráculo de Delfos (conhece-te a ti mesmo) como indicação maior para não perder nunca de vista a sua própria limitação. Daí a razão por que Sócrates dedica a sua vida ao conhecimento da verdade. Essa união da consciência moral aliada ao conhecimento intelectual do verdadeiro e do falso tornaram-se princípios da civilização hodierna. Enquanto os sofistas negam qualquer discussão teórica sobre o bem e o mal, Sócrates defende a idéia de que ninguém pratica o mal pelo simples prazer de praticá-lo voluntariamente. Quando o homem pratica o mal, o faz por ignorância. Sim, porque ao praticar o mal, o homem age sem antes ter pensado, sem antes ter examinado o resultado efetivo do seu agir. Sócrates refere-se àquele exame do qual nasce o saber que transforma o homem, dando-lhe a noção de que o mal deve ser evitado. Além do mais, que é o “bem”?. Que é o “mal”? O “bem” de hoje pode não ser o “bem” de ontem; o “mal” de hoje pode não ser o “mal” de amanhã. Para que se entenda a proposta moral da filosofia socrática, é necessário não desfitar os olhos de uma grande verdade: cada homem é homem no sentido concreto do termo, existindo, vivendo dentro do seu tempo, dentro de sua trama social, convivendo com determinado período que se fará história, com um certa condição cultural, maior ou menor, dependendo do seu esforço de busca, de pesquisa, de indagação. Desse modo é diferente a existência do homem-concreto, daquela existência que ele mesmo percorre como homem-abstrato. O homem-abstrato é o homem-humanidade, a composição heterogênea de todos os indivíduos, vivos ou mortos, sábios ou ignorantes. O homem apresenta, pois, duas faces completamente diferentes: ele - próprio e ele - humanidade. Como homem ele - próprio, guarda para si tudo aquilo de bom que haja conseguido para o enriquecimento de sua inteligência. O homem passa a ser homem-humanidade, quando passa a participar da própria humanidade, distribuindo com os outros homens as riquezas adquiridas por sua inteligência. Ninguém é mal, diz Sócrates, porque ninguém faz o mal voluntariamente. No entanto, é mais fácil a distribuição do mal, do que a repartição do bem. Por quê? Podemos responder, apontando o próprio exemplo de Sócrates, que se dedica a instruir a mocidade de sua terra. E ele o faz convicto de que assim está trabalhando para evitar que o mal domine o bem. Quantos seguiram ou seguem o exemplo de Sócrates? O mal, para Sócrates, repetimos, é fruto da ignorância porque consiste no não ter sabido agir, não ter tido a virtude necessária para fazer o bem. É do nosso pensar que a moralidade pode não ser ciência com as outras, mas implica também, como as outras, um conjunto de dados espirituais, experimentais e culturais. Em primeiro lugar, Sócrates se vale da FORÇA interna para se dedicar ao TRABALHO. E o faz com convicção, mas sobretudo, com amor, de vez que ele esta em busca da CIENCIA. Sócrates busca a verdade ciência, a flor da sabedoria, porque sabe que assim conseguira a VIRTUDE. Ele acha que o homem de posse da virtude conseguida através da verdadeira sabedoria, que é, nada mais, nada menos, que o aperfeiçoamento moral do espírito, chegara à PUREZA, e, só assim conseguira a grande LUZ da VERDADE. Sócrates, pela sua filosofia moral, admite que todos os que se conduzem mal são ignorantes e imprudentes. Por que existe o mal? Sócrates diz que o LOGOS é aquilo segundo o qual todas as coisas acontecem, e, mesmo sendo o LOGOS coisa comum por excelência, o homem se afasta dele. O homem esta sempre envolvido por dois grandes mistérios: o mistério do seu nascimento e o mistério de sua morte, e por mais que faça, por mais que lute, por mais que medite, nunca terá de si mesmo um conhecimento total. Se o homem pudesse abarcar uma perspectiva de conjunto que é ele mesmo – corpo e espírito – talvez pudesse vir a descobrir o “quase” tudo sobre si mesmo. É por isso que Sócrates entende que só a “ciência”, só a verdade sabedoria leva o homem ao bem, pelo seu próprio aperfeiçoamento. Para Sócrates, a virtude é um saber. E aí estamos diante de um paradoxo, uma vez que, para ele, só se adquire a virtude pelos caminhos do saber. A virtude não pode ser ensinada, mas pode ser sugerida. O saber que a virtude exige, não é um saber que se possa adquirir, como se adquire o conhecimento das matemáticas ou da gramática. Para que se o adquira, é necessário todo um esforço interior que ninguém pode fazer por nós, mas que a FILOSOFIA nos faz descobrir sua urgente necessidade. Sócrates não escreveu uma só linha. Mas a sua vida e, sobretudo a sua morte são o grande e eterno poema da filosofia do bem e da moral. Texto do Ir.’. Raimundo Rodrigues ARLS Pelicano nº 233 - GLESP - Or.'. de São Paulo-SP. publicado na Revista A Verdade

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